quarta-feira, 23 de março de 2011

Culpa da Deborah

Mulher sai furiosa do cinema, um homem vem atrás dela.
_ Que foi, amor?
_ Que tipo de mulher tu pensa que eu sou?
_ Como assim?
Ela continua caminhando irritada. O homem caminha tentando alcança-la. Ele a puxa pelo braço e diz não entender o motivo pelo qual ela estaria agindo daquela maneira. Ele pergunta se seria por causa do filme.
_ Tu ainda pergunta, Marcelo?!
_ Ma-ma-mas eu...
_ Esse filme não tem nada que presta! Só putaria, mulher pelada, a guria mijando no cara, que absurdo!
_ É uma história, da vida de uma pessoa que viveu no submundo e conseguiu dar a volta por cima.
_ Pelo amor deus, Marcelo. Eu sei que tua preferencia pra filmes é bem expansiva e tu adora filmes que muitas pessoas detestam por não compreender a intenção do realizador, e tal, mas me trazer pro cinema pra assistir Bruna Surfistinha foi uma bola fora forte. Que mau gosto, hein!
Ela continua caminhando. Marcelo que não é um cara muito esperto, e nunca foi, insiste em tentar defender o filme:
_ Tá, pode até ser que a história não seja das melhores, e que tenha cenas que possam ser constrangedoras...
_ Possam não, são constrangedoras!
_ ...tá, pois é, o filme tem algumas cenas constrangedoras, mas diz aí, a atriz principal tá muito bem na fita, não é, atuação muito boa, e que corpo!
_ Marcelo, faz um favor pra você mesmo, e vê se cala essa boca!
Ela embarca em um táxi e vai embora, Marcelo entra no seu Corsa e vai para casa sozinho.
Ele passa algumas semanas tentando entrar em contato com ela, no entanto ela sempre o evita, até que um dia ele desiste, percebendo que á perdeu.
Marcelo e ela se conheceram na segunda fase do curso de Publicidade e Propaganda, logo começaram a namorar, no último semestre ela lhe deu um fora. Marcelo ficou meses pensando, buscando respostas para o que teria ocasionado o fim do relacionamento, ele sabia que uma escolha errada para uma sessão de cinema não poderia ter sido a razão mor, no entanto, não lhe ocorria nenhuma outra circunstância. Teriam sido seus hábitos de higiene? Ou talvez as roupas que usa, o seu estilo não convencional, ou ainda a maneira como Marcelo conduz o seu dia a dia, sem uma rotina, sem quaisquer tipos de normas ou tarefas previamente estabelecidas. De qualquer forma, um dia Marcelo simplesmente cansou de tentar buscar respostas e chegou à conclusão de que não se deve compreender as mulheres, ou você gosta ou não gosta, ele preferiu gostar, tudo bem, é a vida.
Passado pouco mais de um ano que ela havia dado um fora nele, Marcelo foi surpreendido, numa madrugada, por volta das cinco da manhã, com uma visita dela. Ela estava bêbada, e trazia consigo meia garrafa de vinho do Porto. Ele a recebeu e eles foram beber vinho juntos no sofá da sala. Ela estava muito bêbada, mas mesmo assim, encantadora, e para Marcelo foi uma verdadeira bênção tê-la de volta no seu apartamento. Ele não ficou com grandes esperanças e nada desse tipo, só estava feliz, a companhia dela lhe lhe fazia bem, Marcelo estava quase feliz novamente. Deborah ria, chorava, cantava, dançava, caía, seduzia, até que acabou vomitando e desmaiando na sala.
Marcelo deu um banho nela e a colocou para dormir, ele limpou o vômito dela, terminou o vinho e em seguida também vomitou.

FIM

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